Filiação socioafetiva: um reconhecimento jurídico do afeto

A filiação socioafetiva é o reconhecimento jurídico da maternidade ou paternidade através do afeto, sem que haja vínculo de sangue entre as pessoas.

É uma forma de parentesco civil, prevista no artigo 1.593 do Código Civil.

A filiação socioafetiva decorre de princípios como a afetividade, a dignidade da pessoa humana e a função social da família.

2. Conceito e requisitos

A filiação socioafetiva pode ser definida como o reconhecimento jurídico dado ao homem ou mulher que cria uma criança como seu filho, mesmo que não haja vínculo biológico para isso. É uma forma de estabelecer uma relação de amor, cuidado e responsabilidade entre pais e filhos que não se baseia na origem genética, mas na convivência familiar.

Para que a filiação socioafetiva seja reconhecida, é necessário que alguns requisitos sejam observados, tais como:

  • O pai ou mãe socioafetivo precisa ser, no mínimo, 16 anos mais velho que a criança a ser reconhecida, bem como maior de 18 anos;
  • Não podem fazer o reconhecimento de irmãos ou ascendentes da criança;
  • É preciso que haja uma manifestação de vontade livre e consciente do pai ou mãe socioafetivo;
  • É preciso que haja um vínculo afetivo duradouro e público entre o pai ou mãe socioafetivo e a criança;
  • É preciso que haja o consentimento do filho, caso ele tenha entre 12 e 18 anos;
  • É preciso que não haja impedimento legal ou conflito com a filiação biológica.

 

Nos casos em que um dos genitores biológicos não concorde, o filho tenha menos de 12 anos ou não for preenchido algum dos requisitos acima, o reconhecimento da filiação socioafetiva deverá ser realizado via judicial.

3. Reconhecimento e efeitos

O reconhecimento da filiação socioafetiva pode ser feito de forma extrajudicial ou judicial.

Na forma extrajudicial, o pai ou mãe socioafetivo pode comparecer ao cartório de registro civil com os documentos necessários e solicitar a averbação da filiação na certidão de nascimento da criança.

Na forma judicial, o pai ou mãe socioafetivo pode ingressar com uma ação de reconhecimento de paternidade ou maternidade socioafetiva perante o juiz competente.

O reconhecimento da filiação socioafetiva produz os mesmos efeitos jurídicos da filiação biológica, tais como o direito ao nome, à convivência familiar, à herança, à pensão alimentícia, à guarda e à visitação.

Além disso, o reconhecimento da filiação socioafetiva não exclui nem substitui a filiação biológica, podendo haver a coexistência das duas formas de parentesco.

4. Diferença entre filiação socioafetiva e adoção

A filiação socioafetiva se diferencia da adoção em alguns aspectos.

A adoção é um ato jurídico solene que cria um vínculo de parentesco entre pessoas que não têm laços biológicos, e depende de um processo judicial rigoroso e complexo, que envolve a participação em programas de preparação psicossocial e jurídica.

A filiação socioafetiva, por sua vez, é um fato jurídico espontâneo que reconhece um vínculo de parentesco já existente entre pessoas que têm laços afetivos, podendo ser feita de forma simples e rápida no cartório ou na justiça, sem a necessidade de cumprir requisitos formais ou participar de programas específicos.

Na adoção é rompida a filiação biológica que o filho possuía com a família biológica, permanecendo apenas a filiação adotiva, enquanto o reconhecimento da filiação socioafetiva não exclui nem substitui a filiação biológica, podendo haver a coexistência das duas formas de parentesco.

5. É possível o reconhecimento da filiação socioafetiva post mortem?

Sim, é possível o reconhecimento da filiação socioafetiva post mortem, ou seja, após a morte do pai ou mãe socioafetivo.

Assim, o filho socioafetivo pode ingressar com uma ação de reconhecimento de paternidade ou maternidade socioafetiva perante o juízo competente, desde que comprove a existência de um vínculo afetivo duradouro e público entre ele e o falecido.

O Superior Tribunal de Justiça já reconheceu essa possibilidade em diversos julgados.

Esse reconhecimento produz os mesmos efeitos jurídicos da filiação biológica, como o direito à herança e ao nome.

6. Posso desistir da filiação socioafetiva?

Não, você não pode desistir da filiação socioafetiva, pois ela é irrevogável.

Uma vez reconhecida a filiação socioafetiva, ela produz os mesmos efeitos jurídicos da filiação biológica, e não pode ser desfeita por mera vontade das partes.

A filiação socioafetiva só pode ser desconstituída judicialmente se houver prova de que houve vício de vontade, simulação ou fraude no seu reconhecimento. Nesse caso, é possível ingressar com uma ação negatória de paternidade ou maternidade socioafetiva, que deverá ser julgada pelo juízo competente.

A irrevogabilidade da filiação socioafetiva se baseia nos princípios da afetividade, da dignidade da pessoa humana e do melhor interesse da criança ou adolescente, que visam proteger o vínculo familiar construído pelo amor e pelo cuidado.

A filiação socioafetiva não pode ser tratada como um ato de conveniência ou oportunidade, mas como um ato de responsabilidade e compromisso.

7. Precisa de advogado para reconhecer a filiação socioafetiva em cartório?

Não, você não precisa de advogado para reconhecer a filiação socioafetiva em cartório, desde que haja o consentimento de todos os envolvidos e que não haja conflito com a filiação biológica.

Os requerentes deverão comprovar o vínculo afetivo por meio de documentos, tais como: apontamento escolar como responsável ou representante do aluno; inscrição do pretenso filho em plano de saúde ou em órgão de previdência; registro oficial de que residem na mesma unidade domiciliar; vínculo de conjugalidade – casamento ou união estável – com o ascendente biológico; inscrição como dependente do requerente em entidades associativas; fotografias em celebrações relevantes; declaração de testemunhas com firma reconhecida.

A ausência dos documentos acima não impede o reconhecimento da filiação, desde que justificada a impossibilidade, devendo, nesse caso, o cartório atestar como apurou o vínculo socioafetivo.

Entretanto, se houver alguma dúvida ou dificuldade por parte do cartório, que ainda não esteja familiarizado com o procedimento, é aconselhável a presença de um advogado especialista para orientar os interessados. Além disso, se houver oposição de algum dos pais biológicos ou do próprio filho, se for maior de 12 anos, o reconhecimento da filiação socioafetiva só poderá ser feito por meio de uma ação judicial, que exigirá a assistência de um advogado especialista em direito de família.

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Geziel Viana de Oliveira

Advogado inscrito na OAB/PR sob o nº 96.348, especialista em Direito de Família, sócio fundador do escritório Viana Oliveira Advogados.

Geziel Viana de Oliveira

Advogado inscrito na OAB/PR sob o nº 96.348, especialista em Direito de Família, sócio fundador do escritório Viana Oliveira Advogados.

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